Nesta postagem, verificamos uma discussão de extrema relevância para o futuro da Educação em nosso país, desde as perguntas presentes já no título do texto. Leia atentamente sobre esta temática e discuta os pontos que você considerar mais relevantes com seus colegas. É refletindo sobre nossa área de atuação que poderemos modificar o estado das coisas. Mudar o mundo para melhor. Boa leitura e boa conversa, educadores e educadoras!
QUE ESCOLA TEREMOS? QUE ESCOLA QUEREMOS?
A ESCOLA NECESSÁRIA PARA O PRESENTE COM VISTAS PARA O FUTURO
Passamos um bom tempo do século XX tentando encontrar a fórmula da
melhor escola para uma sociedade industrial que não se contentava em ser
tratada como uma máquina ou como uma linha de montagem, na qual cada um fizesse
sua parte e o produto final fosse a simples somatória dos esforços de todos.
Tivemos presente nesse século [...] a continuidade da Escola
Tradicional modificada em alguns aspectos, principalmente no que se refere ao
discurso, porém com uma prática extremamente autoritária; a presença da Escola
Renovada, que veio centrando esforços na importância do sujeito como aprendiz,
no desenvolvimento da autonomia, da criatividade e, principalmente, na construção
do conhecimento; o surgimento de uma Escola Tecnicista, centrada na
metodologia, nos recursos didáticos, no ensino prático, rápido e eficaz que
tratava do atingimento de objetivos estabelecidos cuidadosamente e tecnicamente
elaborados, para cada etapa de ensino-aprendizagem, previamente planejada, com
o mesmo rigor exigido para o funcionamento de um maquinário; a Escola
Progressista, que trouxe no seu âmago a força de oposição às outras, e que
centrou sua atenção no conhecimento como instrumento de justiça social,
fundamentado historicamente, a ser transformado coletivamente.
Apesar de todos os movimentos existentes, ao entrarmos em muitas
universidades, escolas e outras instituições educacionais, encontramos presente
a forte marca do Ensino Tradicional, na forma de como as cadeiras são
dispostas, nas metodologias que se utilizam basicamente da aula expositiva como
único recurso de ensino, nas avaliações que ainda se preocupam com o acúmulo de
conhecimentos sem significado e outros aspectos que denunciam essa presença.
[...] A década de 1990, no entanto, permitiu que várias mudanças
pudessem acontecer no campo educacional brasileiro, tanto no que se referiu a
instituções educacionais como às organizações não-governamentais (ONGs), que se
propuseram desempenhar seu papel de cidadania sem esperar que todas as soluções
fossem propostas e desenvolvidas pelo governo, como também a área
governamental, com uma LDB (1996) modificada, já citada, e uma proposta de
parâmetros curriculares para todo o território nacional.
Houve um avanço, porém ainda muito tímido, diante do número de
escolas que existem nesta imensidão que é o Brasil. Estamos presenciando o
final da Era Industrial e vislumbrando a entrada na Era da Informação
percebendo que toda a precisão técnica e científica desenvolvida a partir das
necessidades industriais já não faz mais sentido, por si só, no mundo da
comunicação, no qual o ser humano se faz novamente necessário, não como
mão-de-obra ou como consumidor da produção material, e sim como sujeito numa
relação, como ator desse mundo e como usuário da informação veiculada pela
mídia. Não são mais as grandes indústrias que dominam o mercado financeiro do
mundo e sim as empresas de comunicação.
Essa mudança de foco na economia do mundo traz como saldo positivo
a possibilidade de finalmente sacudirmos um pouco a educação e promovermos
transformações mais significativas, integradas ao discurso, sem fazer de conta
que ensinamos enquanto alunos e alunas fazem de conta que aprendem e, diante da
complexidade do mundo, se dão conta de que não podem se apoiar nos
conhecimentos obtidos nos bancos escolares para desempenharem seu papel de
cidadãos e cidadãs.
Nessa perspectiva, é essencial a vinculação da escola com as
questões sociais e com os valores democráticos, não só do ponto de vista da
seleção e tratamento de conteúdos, como também da própria organização escolar.
[...] Pode-se dizer que a maioria das escolas tende a ser apenas um local de
trabalho individualizado e não uma organização com objetivos próprios, elaborados
e manifestados pela ação coordenada de seus diversos profissionais. [...] É
imprescindível que cada escola discuta e construa seu projeto educativo
(BRASIL-SEF, 1997, p. 48).
Um projeto educativo, no entanto, não pode estar pautado apenas na
crença dos (das) profissionais que coordenam a escola, e sim das necessidades
impostas pela atualidade e pelas perspectivas futuras.
Para delinearmos a Escola Necessária nos dias de hoje, é preciso
pensar o homem, a mulher, o passado, o presente, o futuro, a função do
conhecimento no mundo, principalmente as relações humanas e os valores que
regem a convivência no mundo.
A nova era surge batizada de diferentes formas - Era do
Conhecimento, Era da Comunicação, Era da Informação - indicando sobretudo a
necessidade de uma revisão do papel do ser humano na Terra. É preciso
re-pensar, re-sentir e re-agir.
A educação precisa desencadear uma nova caminhada. Porém, não
podemos nos contentar em ser instrumentos de mera adaptação como fizemos no
século passado. Faz-se urgente que desenvolvamos uma visão projetada para o
futuro, para que a educação possa ser mais um instrumento de transformação do
mundo e das condições humanas.
A Escola Necessária deve, portanto, estar consciente do que deseja
para o presente e para o futuro de nossos jovens, buscando a construção de
pontes, tao bem descritas por NICOLESCU (1999), que permitam o trânsito entre a
ciência e a consciência, o objetivo e o subjetivo, o exterior e o interior, a
máquina e o humano, a produtividade e a solidariedade, o trabalho e o lazer, o
pragmatismo e a religiosidade, a mudança e a preservação, o conhecimento
historicamente construído e os fenômenos sociais da atualidade e, sobretudo,
entre o mundo e os seres que o compõem.
Fonte: BARBOSA, Laura Monte Serrat. PCN - conversa com educadores:
uma reflexão sobre os parâmetros curriculares nacionais. Curitiba: Bella
Escola, 2002.